Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.
Neste vídeo tão sensível quanto provocativo, a dramaturga Silvia Gomez lembra o passado para indicar os impasses do presente. Forja uma breve dramaturgia e propõe sua encenação imaginária. A natureza nos coloca no meio de uma experiência angustiante e reveladora: o outro nos provoca medo e sobreviver é reconhecer limites. Mas é diante da fragilidade dessas fronteiras, das fendas gigantescas que se abrem sob nossos pés, que percebemos a importância de termos uns aos outros.
Silvia Gomez (Belo Horizonte, 1977) é jornalista e dramaturga. Integrou o Círculo de
Dramaturgia do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT-SESC), onde encenou sua primeira peça, “O céu cinco minutos antes da tempestade”, publicada no livro Círculo de Dramaturgia (Edições SESC,2006) e traduzida para o espanhol, francês, sueco, alemão, inglês, italiano e mandarim. Escreveu ainda peças como “Mantenha fora do alcance do bebê”, vencedora dos prêmios APCA/2015 e Aplauso Brasil/2015, “Marte, você está aí?” e “Neste mundo louco, nesta noite brilhante”, texto que teve leituras no México, na Bolívia, e foi indicado ao prêmio Shell de Teatro.
CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.