Tecendo a manhã – Cacá Carvalho

Inspirados pelo poema de João Cabral de Melo Neto, inventamos no início da pandemia este projeto que chega ao final. A ideia não era repercutir opiniões sobre o isolamento – que informação já temos demais – e sim colher depoimentos íntimos sobre as circunstâncias.

Convidamos artistas e pessoas da cultura, de todas as regiões do país, para que gravassem vídeos curtos, cada um “do seu quintal” e com os materiais que quisessem. O importante era que as respostas não fossem protocolares E elas vieram, muito generosas. Subimos vinte e dois vídeos. Falas, razões e sentimentos muito lindos, o que acabou fazendo da série um dossiê involuntário, critico e afetivo, sobre o momento. Agradecemos imensamente aos que puderam responder ao nosso chamado. Foi uma alegria, Marcelino Freire, Sergio Mamberti, Renato Borghi, Alberto Silva Neto, Dione Carlos, Celso Frateschi, Jhonny Salaberg, Paula Gomes, Ivam Cabral, Ave Terrena, Edyr Augusto, José Cetra Filho, Daniela Pereira de Carvalho, Silvia Gomez, José Roberto Jardim, Sergio Maggio, Leonarda Glück, Nena Inoue, Ricardo Guilherme, Claudia Barral, Pedro Granato. E também aos que não puderam. Entendemos perfeitamente a confusão e o apelo dos dias.

Para encerrar essa jornada apresentamos hoje algo também especial: este ator grandíssimo, Cacá Carvalho, que nos trouxe de presente uma narrativa breve de Karen Blixen, “As estradas da minha vida”. O Cacá é desses artistas que honram o ofício. Pelo enorme, às vezes assombroso talento, mas também pelas escolhas que fez desde que, segundo os livros de História, inaugurou com Antunes Filho e todos os seus parceiros e parceiras de geração, um capítulo novo no teatro brasileiro naquele final dos 70, a partir de ‘Macunaíma’. E além, quando nos encantou em interpretações magistrais de Guimarães Rosa, Plínio Marcos, Pirandello, Dostoiévski.

Sobre essa pequena pérola que ele nos traz aqui tão delicadamente, tomamos a liberdade de dedicá-la à memória de tod_s _s artistas que partiram nestes dias e que também desenharam suas trajetórias pensando nas tantas formas da beleza. E à vida, enfim, que por isso há de seguir na potência. Obrigado a tod_s. E vamos.

Cacá Carvalho lê “As estradas da minha vida”, de Karen Blixen:

Cacá Carvalho (Belém, 1953). Ator e diretor. Como ele gosta de ser presentado, é afilhado do poeta paraense Ruy Paranatinga Barata. Sua chegada ao teatro deu-se em 1968 e logo depois, sob a direção de Geraldo Salles, no Grupo Experiência de Belém (PA). É reconhecido como um dos maiores atores brasileiros contemporâneos, desde a referencial montagem de “Macunaíma” (1978), com encenação de Antunes Filho. Após alguns anos de afastamento voluntário, volta aos palcos em 1982 , sob a direção de Paulo Yutaka, para o “Teatro Maluco de Zé Fidelis”. No mesmo ano, com direção de Juca de Oliveira, atua em “Otelo”, de Shakespeare.

Em 1986 protagoniza um dos seus mais aclamados trabalhos, “Meu Tio, o Iauaretê”, dirigido por Roberto Lage e inspirado no conto de Guimarães Rosa. Apresenta-se no Centro per la Sperimentazioni e la Ricerca Teatrale, Pontedera, Itália, onde é assistido por Grotowski. A partir de então, torna-se colaborador do Centro como ator, pedagogo ou assistente de direção. Em 1988 apresenta-se no Festival de Volterra com “Inútil canto, inutil pranto pelos anjos caídos”, de Plínio Marcos, renomeado para “25 Homens”, sob a direção de François Kanh. Já em parceria com Roberto Bacci, seu mais recorrente diretor, atua em “O Homem com a Flor na Boca”, de Pirandello (1994), com o qual realiza uma excursão internacional.

Em 1996, sob a direção de Moacir Chaves, interpreta o Sganarello de “Don Juan”, ao lado de Edson Celulari, e aprofunda suas atividades como formador de atores no Brasil e na Itália. Em 1999 volta à cena com Celulari em “Fim de Jogo”, de Beckett, direção de Francisco Medeiros. Encena neste mesmo ano “Partido”, baseado em texto de Ítalo Calvino, com o Grupo Galpão. Em 2003 e 2011 atua novamente sob a direção de Bacci e a partir de Pirandello, em “A Poltrona Escura” e “Umnenhumcemmil”, respectivamente. Seus espetáculos mais recentes são “2×2=5 O Homem do Subsolo”, de Dostoievski, e “A Próxima Estação – Um Espetáculo para Ler”, de Michele Santeramo.


Fonte: a partir da Enciclopédia Itaú Cultural.