Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.
Agora seguimos com esta leitura sensível de um trecho de As Mil e Uma Noites, feita pela atriz e dramaturga Ave Terrena. Sherazade se utiliza de seu encantador poder de contar histórias para se livrar da morte e prolongar a vida. A literatura cava a imaginação para desbastar os dias de horror. A trajetória da personagem milenar cruza de algum modo com as nossas e ganha uma bonita atualidade: o contar, o narrar para si e para o outro arranca esperança ao futuro.
AVE TERRENA (São Paulo, 1991) é dramaturga, atriz, diretora e professora da Escola Livre de Teatro de Santo André. Tem quatro textos encenados, dois pelo grupo LABTD, do qual faz parte, e também por outros coletivos teatrais. Publicou os livros “Segunda Queda”, de poemas, e a peça “O Corpo que o Rio levou”. Entre seus trabalhos recentes, destacam-se “as 3 uiaras de SP city”, premiada pelo edital de dramaturgia em pequenos formatos cênicos do CCSP, e o espetáculo poético-musical “Segunda Queda”, que estreou no Teatro Oficina, comemorando a 3ª Semana de Visibilidade Trans da Casa 1.
CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.