Tecendo a manhã – Edyr Augusto

Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.

Como disse o jornalista Ubiratan Brasil em uma matéria sobre “Pssica”, o paraense Edyr Augusto prova em sua literatura o quanto viver é perigoso. Elogiados pela crítica brasileira e europeia e com projetos de adaptação para o cinema e a TV, seus romances seguem a tradição da narrativa policial, mas em chão próprio: o Pará, a cidade de Belém e seus cenários geográficos e humanos – que, no entanto,  apesar do realismo cortante não têm interesse em fazer o retrato regionalista “típico”. É de uma Amazônia urbana que ele fala. Convidado a gravar algo para a nossa série TECENDO A MANHÃ, Edyr escolheu esse trecho, do seu mais novo romance, “Belhell” (Boitempo Editorial). Não por acaso é uma passagem sobre os fios tênues entre desejo, vida e morte.

Edyr Augusto lê um trecho do romance Belhell

EDYR AUGUSTO (Belém, 1954) é jornalista, escritor e dramaturgo.  Tem 16 livros lançados, entre poesia, crônica, teatro, conto e romance. Entre eles estão Os éguas (1998 – Prêmio Caméléon de melhor livro estrangeiro, na França), Moscow (2001), Casa de Caba (2005), Pssica (2015 – considerado pela crítica um dos melhores lançamentos literários daquele ano) e Belhell (2020). Todos pela Boitempo Editorial.

CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.