Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.
Teria a linguagem capacidade para descrever o que vivemos agora? Será o silêncio uma força capaz de desbastar o horror e criar uma outra história? Nesta leitura aguda de um trecho adaptado de “O inominável”, de Samuel Beckett, o diretor e dramaturgo José Roberto Jardim nos coloca diante dessas questões. Qualquer passo adiante parece depender de uma disposição radical para duvidar das palavras e modelos que nos moveram até aqui.
José Roberto Jardim (São Paulo, 1976) é diretor e dramaturgo. Formou-se na Escola de Arte Dramática (EAD) da USP. Foi integrante da Cia. Os Fofos Encenam por mais de uma década. Nos últimos anos recebeu vários prêmios por suas encenações. Alguns de seus espetáculos foram convidados a participar de festivais internacionais como o WSD (World Stage Design), em Taiwan, o Blacksea International Fest e a Quadrienal de Praga (PQ19), neste sendo um dos representantes do Brasil. Em 2019 estreou “Há dias que não morro” no Antalya Theatre Festival, a convite do governo turco. Sua mais recente encenação é “A Desumanização”, primeira versão teatral do romance de Valter Hugo Mãe.
CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.