Samir Yazbek: dramaturgia e risco

Samir Yazbek: “contexto é estímulo”. Foto: Heloísa Bortz.

Abrir janelas para a escrita, é o que propõe o dramaturgo Samir Yazbek em uma série de encontros sobre fundamentos da dramaturgia que acontecerá nas segundas-feiras de Maio.  “Pensando a dramaturgia hoje” é o nome do ciclo (Veja as informações no final da entrevista).  Uma tarefa nada fácil mesmo para um dramaturgo central na cena como ele. É que, a despeito das tradições já assimiladas nas formas do texto teatral, os fundamentos tornaram-se fugidios. Não importa se temos apreço por eles, escapam como aventureiros na garupa de autoras e autores que estão levando a “peça de teatro” a caminhos antes nunca visitados. Mas Samir, um conhecedor tanto da carpintaria quanto do sentido da invenção, parece estar atento à regra como também ao fora da ordem. Propõe então um curso que vai apresentar “a natureza da linguagem e suas técnicas” e convida a “refletir sobre o papel da dramaturgia na configuração de novos imaginários cênicos”.  Coordenador da Pós-Graduação em Dramaturgia da Escola Superior de Artes Célia Helena, Yazbek é dono de obra premiada em que teceu ficções marcadamente autorais com grande interesse nas idas e voltas entre diferentes modos de pensamento, da memória e do presente. Da mitologia à História, seus textos trazem aspectos da cultura assimilados em dramas humanos postos sempre no trânsito entre a contundência e a delicadeza.  É o que se pode ver em peças como O Fingidor (já um clássico contemporâneo), A Terra Prometida e As folhas do cedro, entre outras.

O ciclo terá mediação da dramaturga e também pedagoga do teatro Marici Salomão, que como Samir entende muito desse traçado. Esteve ou está à frente do fomento à escrita em projetos que seguem como ilhas da criação, como o Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council (hoje coordenado por Silvia Gomez) e o curso de dramaturgia da SP Escola de Teatro.  São espaços de onde saíram muitos e muitas dos que estão fazendo a cena acontecer em São Paulo.

Em breve entrevista a Kil Abreu Samir Yazbek fala sobre dramaturgia hoje, a formação e seus contextos.

CENA ABERTA – O nome do ciclo é “Pensando a dramaturgia hoje”. Em linhas gerais, o que se pode dizer sobre  o “hoje” da dramaturgia, se considerarmos o contexto, digamos, tragicamente alucinado, da realidade brasileira neste momento?

SAMIR YAZBEK – O contexto da realidade brasileira de hoje é um dos estímulos para a realização desse ciclo. Diante desse quadro de atrocidades do governo federal, que se dá nas mais diversas áreas, o imaginário criador tende a se acomodar ou a se paralisar. Junte-se a isso o problema da pandemia (só agravado pelo mesmo governo), e o que temos é o perigo da prostração. Mas também, em momentos como esse, de crise absoluta, somos instados a agir em função de nossas mais preciosas convicções, tanto em relação à expressão artística quanto à consciência de nossa cidadania. Esse ciclo reflexivo é uma forma de ação nesse contexto.

As Folhas do cedro: gerações e memória

CA – Você e Marici Salomão além de autor e autora referenciais na cena são também pedagogo e pedagoga da criação. O que um dramaturgo, uma dramaturga, podem ensinar a outro, a outra, sem perder de vista o seu próprio projeto poético mas também sem esquecer o espaço de autonomia de quem está começando a escrever?

SY – Procuro estar atento a essa gangorra. Desde quando comecei a escrever para teatro, a atividade pedagógica esteve colada à minha prática, talvez por um gosto pelo compartilhamento de ideias. Mas eu sempre resisti a falar de minhas peças em cursos de criação (mesmo em outras ocasiões eu resisto), justamente para preservar minha seara de dramaturgo (que pode até se beneficiar dessa dinâmica, mas daí é outro caso). Creio que essa separação de funções tem me ajudado a ser receptivo às ideias dos participantes, algo que considero fundamental para cursos de criação. Nesse sentido, prefiro pensar numa dramaturgia libertária, sem abrir mão da importância de se conhecer certos fundamentos da linguagem dramatúrgica, em diversos estilos.

CA – Marici Salomão anotou sobre você, na apresentação do curso: “ Samir Yazbek propõe compartilhar pensamentos em modo ‘risco’, de maneira a estimular novos pontos de vista sobre dramaturgia contemporânea”. Fale um pouco sobre isso. O que significa para você  pensar “arriscadamente” a dramaturgia hoje?

SY – O maior desafio, num contexto de produção como o nosso, tão variado, é fugir de fórmulas prontas, independentemente de elas serem mais ou menos consagradas pela tradição. Nesse sentido, tanto o “velho” quanto o “novo” podem representar armadilhas igualmente perigosas. Como criador e também como leitor/espectador, procuro me abrir às proposições dramatúrgicas singulares de cada indivíduo ou grupo de criação. No teatro, gosto de ler de tudo, de assistir de tudo, e sou capaz de apreciar o que é muito diferente de mim. Sondar e fomentar as necessidades e os desejos criativos no campo da dramaturgia é um dos intuitos desse ciclo, assim como debater a dialética entre conteúdo e forma, evitando qualquer abordagem mais programática.

Ciclo “Pensando a Dramaturgia Hoje” – com Samir Yazbek e Marici Salomão

Dias: 03, 10, 17, 24 e 31 de maio, das 19h às 21h

Inscrições e informações: https://www.celiahelena.com.br/cursos/cursos-de-curta-duracao/pensando-a-dramaturgia-hoje/

PROGRAMAÇÃO

Encontro 1 – NOVOS IMAGINÁRIOS
Dia 03 de maio, segunda, das 19h às 21h

Encontro 2 – ESTÉTICAS E GÊNEROS
Dia 10 de maio, segunda, das 19h às 21h

Encontro 3 – FUNDAMENTOS E CONCEITOS
Dia 17 de maio, segunda, das 19h às 21h

Encontro 4 – ESPAÇOS E TEMPOS TEATRAIS
Dia 24 de maio, segunda, das 19h às 21h

Encontro 5 – DIÁLOGOS COM A CENA E O PÚBLICO
Dia 31 de maio, segunda, das 19h às 21h

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