Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.
A cineasta Paula Gomes escolheu ler para nós, lá de Salvador, o poema “Filhos da época”, da polonesa Wislawa Szynborska. É o alerta, político, para que certas vidas “não importem mais do que outras”. Obrigado, Paulinha! É alimento para todxs nós.
PAULA GOMES (Salvador, 1979) é cineasta e produtora. Faz parte do coletivo baiano Plano 3 Filmes. Seu último documentário, Jonas e o Circo sem Lona, foi exibido em 30 países; tendo recebido 13 prêmios incluindo o Prêmio do Público do Festival de Toulouse (França) e o de Melhor Filme do MiradasDoc (Espanha). Paula também atua como consultora de projetos de documentário, tendo integrado as equipes do DiásporaLab, NordesteLab e DocMontevideo.
Filhos da época, de Wislawa Szynborska (Cracóvia, 1923), foi publicado no Brasil em: Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. São Paulo: Cia. Das Letras, 2011.
CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.