Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.
O ator Alberto Silva Neto lê trechos do romance “Chove nos campos de cachoeira”, de Dalcídio Jurandir.
O paraense ALBERTO SILVA NETO é ator, diretor e professor. Iniciou no teatro em 1987. Desde 2004 dirige o grupo USINA, de Belém. É Doutor em Artes pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2009 é professor do curso de Licenciatura Plena em Teatro da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Ernani Chaves (que fez a dramaturgia desta cena gravada por Alberto Silva Neto) é professor titular da Faculdade de Filosofia da UFPA. Doutor em Filosofia pela USP, com estágios de estudos e pesquisas na Alemanha, França, Itália, Espanha e Portugal. Autor de livros e artigos publicados no Brasil e no exterior.
Dalcidio Jurandir (1909-1979) é paraense e conhecido como “o romancista da Amazônia”. Seu primeiro livro, “Chove nos campos de Cachoeira” foi publicado pela Editora Vecchi em 1941, depois ter ganhado o primeiro prêmio no concurso “Dom Casmurro”, de cujo júri participaram, entre outros, Jorge Amado e Oswald de Andrade. Este livro inicia o chamado “Ciclo do Extremo Norte”, um conjunto de dez romances que giram em torno do personagem “Alfredo”. O trecho lido aqui, retirado de “Chove nos campos de cachoeira”, trata da chegada da pandemia de gripe espanhola, a “Influenza”, que chegou ao Brasil por volta de 1918 ceifando muitas vidas no interior do Pará. Em especial a dos pobres.
CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas e sextas-feiras. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.