Vivemos agora as consequências da pandemia. Isolados em casa, misturam-se em nós a vontade de expressão do sentimento íntimo com a necessidade de ouvir o que diz a ciência. Como no poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, em que a lírica é tecida com os fios da razão, nos irmanamos com a ideia de que será preciso unir os cantos de cada um – a partir de nossos quartos, casas e quintais – para forjar uma nova realidade. Convidamos pessoas da cultura e artistas de várias linguagens para gravar um vídeo curto, dizendo aos outros aquilo que lhes parece ser mais importante diante desta situação-limite.
O ator Celso Frateschi interpreta trecho do espetáculo “Diana”.
“Diana” tem dramaturgia de Celso Frateschi e direção de Rudifran Pompeu. O personagem que ele interpreta é um professor conservador que, desencantado com as relações humanas ordinárias, cria para si uma outra relação, extraordinária: apaixona-se pela mulher representada na escultura “Saindo do banho”, de Brecheret, encontrada no Largo do Arouche em final dos anos sessenta. A cena é, como diz o ator, uma homenagem aos mortos e desaparecidos na ditadura militar brasileira. E simbolicamente nos remete ao momento atual, quando reverberam em muitos de nós os efeitos do isolamento forçado e da solidão, sob uma conjuntura que flerta com o autoritarismo.
CELSO FRATESCHI (1952) é ator, diretor e dramaturgo. Iniciou sua carreira em 1970, no Núcleo 2 do Teatro de Arena de São Paulo, em “Teatro Jornal 1ª Edição”, dirigido por Augusto Boal. Desde então construiu trajetória pautada pelo pensamento de uma arte crítica, com espetáculos várias vezes destacados através de prêmios como Mambembe e Shell. Na gestão pública, foi Secretário de Cultura em Santo André, São Bernardo e São Paulo. Foi presidente da Funarte, diretor do Tusp (Teatro da USP) e professor na Escola de Arte dramática da ECA-USP. Atualmente é diretor do Ágora Teatro, em São Paulo.
CENA ABERTA publicará os vídeos, às segundas, quartas, sextas-feiras e sábados. Agradecemos muitíssimo a todos e todas que puderam e quiseram responder ao nosso chamado. Nossa intenção é construir com essas vozes ora isoladas não só um coro, como também um registro, um documento crítico-afetivo sobre o presente.