Resistir ao tempo morto

Há dias que não morro é um espetáculo que insiste em nos colocar diante da morte, nas suas mais variadas formas. Logo de início ela está ali, sólida. A peça não começa sem que antes tenhamos que saltar o corpo de um palhaço estendido na soleira da porta de entrada. O neon colorido que toma conta da antessala dá um brilho aterrorizador ao conjunto, instalando uma alegria postiça que contrasta com o corpo sem vida do saltimbanco. Entramos no teatro com a sensação de que será preciso não só encarar a morte, mas, de algum modo, ultrapassá-la.

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Gardênia celebra o amor que sabe esperar

Se em geral nos romances de García Marquez é o dado local e histórico que, cruzado com o mito, remete às generalizações poéticas em que se assenta o realismo sui generis que popularizou o autor, neste romance, O amor nos tempos do cólera, parece acontecer o inverso. Sem perder de vista o contexto histórico (os “tempos do cólera” em uma cidade latina no século XIX) é a mitologia pessoal que ilumina e dá perspectiva ao entorno. A percepção fina desta inversão é o que parece mover a dramaturgia de Gardênia, assinada por Ana Roxo. A incisão feita no romance extrai dele, e de uma maneira intencionada, a linha mestra que no espetáculo aparece recortada: a relação resistente entre Florentino Ariza e Fermina Daza e a cronologia de um amor em tempo de espera. Todo o resto, do ambiente às outras personagens, é aproveitado em apoio a este eixo.

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